A Patrulha da Montanha
Publicado originalmente em www.CenadeCinema.com.br (03.06.2006)
Crítica do Filme “A Patrulha da Montanha” (Kekexili, Lu Chuan (Chuan Lu), 90 min., China, 2004).
História e Persistência
Baseado na história real do jornalista chinês Ga Yu (Zhang Lei), enviado ao Tibet por 17 dias para investigar e relatar em seu artigo assassinatos atribuídos à Patrulha da Montanha, uma organização voluntária independente que luta contra a matança de antílopes desencadeada pelos caçadores e vendedores de peles, armada com armas precárias e alguns poucos veículos em situações não muito diferentes, A Patrulha da Montanha é um filme difícil de ser assistido, porém rico em informações históricas e ótimas imagens sobre este período de atuação dos “rebeldes” que vai de 1993 a 1996. É bastante contundente no que se propõe a mostrar, tendo tanto uma exposição forte de imagens nas tomadas que a exigem como nas matanças promovidas pelos caçadores e nas atitudes calculistas do líder patrulheiro, quanto em cenas sentimentais entre um membro da patrulha e sua namorada, quando o rapaz recorre a ela solicitando dinheiro e ela deduz que ele tenha gasto o dinheiro com mulheres.
Liderada por Ritai (Duobuji), um ex-militar engajado na preservação da população de antílopes que em poucos anos passou de centenas de milhares para apenas dez mil cabeças, a Patrulha persegue caçadores, sem auxílio ou proteção governamental nem legislativa, criando sua própria legislação e cobrando multas e confiscando as peles. Pela convivência que, apesar de pouco tempo foi bastante intensa, Ritai, desconfiando no início das intenções de Ga Yu em relação à Patrulha e cedendo após uma melhor reflexão em razão da promessa de ajuda e divulgação na mídia mundial, acaba criando um grande vínculo com o jornalista, que por sua vez corresponde com o resto da Patrulha, gerando alguns momentos sutis de humor entre o grupo como forma de aliviar a tensão e também uma grande preocupação de Ga Yu com o líder.
Esta fita, premiada em vários festivais como o Golden Horse Awards (uma espécie de Oscar de Taiwan), Tokyo International Film Festival (premio especial do júri para o diretor Lu Chuan), Berlin International Film Festival 2005 (Prêmio Don Quixote - Menção Honrosa), e com participação no Sundance Film Festival 2005 e Seattle International Film Festival 2005, tem características autorais fortes do diretor Lu Chuan, como a captação de diálogos em primeira pessoa, também presente no filme “A Arma Perdida” (“The Missing Gun” ou “Xun qiang”, 2002), em que o diretor trata a maioria dos diálogos da mesma forma criando um laço de intimidade com o espectador. A bela fotografia de Kekexili (local onde a Patrulha atua nestes 17 dias) proporciona cenas magníficas de um solo desértico, arenoso e de certa forma característico de um clima árido, coberto de neve, rios congelados e areias movediças, este último fenômeno sendo responsável por uma das melhores tomadas do filme em que um dos patrulheiros que espera auxílio sozinho em seu carro é tragado pela traiçoeira superfície, deixando como pista de sua presença apenas as mercadorias que estava na mão. O interessante e, diga-se de passagem, uma ótima cartada do diretor que faz um trabalho parecido em A Arma Perdida, é que esta tomada é mostrada primeiro pelo ponto de vista dos patrulheiros voltando com o auxílio que, encontrando apenas o carro vazio e as mercadorias espalhadas no chão, seguem adiante seu trajeto. Após o corte de cena, o filme volta alguns minutos na linha do tempo mostrando o fato pelo ponto de vista do patrulheiro que estava no carro, aí sim explicando a tragédia e o porquê das mercadorias estarem espalhadas e o motorista não estar mais ali.
Como citado no início, é um filme difícil de assistir. Não é para entreter e sim para assistir, analisar, absorver informações, conhecer e depois pensar em entretenimento. É bonito e tem um roteiro que apesar de algumas vezes assemelhar-se a uma forma de documentário (até por se tratar de uma história real) , da conta do recado, não deixa dúvidas no final, explicando o que aconteceu após esta reportagem do jornalista. O único pecado cometido por Lu Chuan foi ter tratado a narração da história como um todo em terceira pessoa. Em se tratando de um roteiro resultado do trabalho jornalístico de um indivíduo que presenciou e sentiu na pele toda a tensão e sentimento, conflitos e conquistas deste grupo, o mesmo exige algumas vezes, sem sucesso, a opinião ou ponto de vista do narrador, o que não acontece, tornando muitas vezes a história imparcial e mostrada com uma amplitude exagerada desnecessária.
Um ponto contra, vários a favor. Vale a pena assistir quando bater aquela a vontade de um filme cabeça, bonito e de cunho jornalístico.
Crítica do Filme “A Patrulha da Montanha” (Kekexili, Lu Chuan (Chuan Lu), 90 min., China, 2004).
História e Persistência
Baseado na história real do jornalista chinês Ga Yu (Zhang Lei), enviado ao Tibet por 17 dias para investigar e relatar em seu artigo assassinatos atribuídos à Patrulha da Montanha, uma organização voluntária independente que luta contra a matança de antílopes desencadeada pelos caçadores e vendedores de peles, armada com armas precárias e alguns poucos veículos em situações não muito diferentes, A Patrulha da Montanha é um filme difícil de ser assistido, porém rico em informações históricas e ótimas imagens sobre este período de atuação dos “rebeldes” que vai de 1993 a 1996. É bastante contundente no que se propõe a mostrar, tendo tanto uma exposição forte de imagens nas tomadas que a exigem como nas matanças promovidas pelos caçadores e nas atitudes calculistas do líder patrulheiro, quanto em cenas sentimentais entre um membro da patrulha e sua namorada, quando o rapaz recorre a ela solicitando dinheiro e ela deduz que ele tenha gasto o dinheiro com mulheres.
Liderada por Ritai (Duobuji), um ex-militar engajado na preservação da população de antílopes que em poucos anos passou de centenas de milhares para apenas dez mil cabeças, a Patrulha persegue caçadores, sem auxílio ou proteção governamental nem legislativa, criando sua própria legislação e cobrando multas e confiscando as peles. Pela convivência que, apesar de pouco tempo foi bastante intensa, Ritai, desconfiando no início das intenções de Ga Yu em relação à Patrulha e cedendo após uma melhor reflexão em razão da promessa de ajuda e divulgação na mídia mundial, acaba criando um grande vínculo com o jornalista, que por sua vez corresponde com o resto da Patrulha, gerando alguns momentos sutis de humor entre o grupo como forma de aliviar a tensão e também uma grande preocupação de Ga Yu com o líder.
Esta fita, premiada em vários festivais como o Golden Horse Awards (uma espécie de Oscar de Taiwan), Tokyo International Film Festival (premio especial do júri para o diretor Lu Chuan), Berlin International Film Festival 2005 (Prêmio Don Quixote - Menção Honrosa), e com participação no Sundance Film Festival 2005 e Seattle International Film Festival 2005, tem características autorais fortes do diretor Lu Chuan, como a captação de diálogos em primeira pessoa, também presente no filme “A Arma Perdida” (“The Missing Gun” ou “Xun qiang”, 2002), em que o diretor trata a maioria dos diálogos da mesma forma criando um laço de intimidade com o espectador. A bela fotografia de Kekexili (local onde a Patrulha atua nestes 17 dias) proporciona cenas magníficas de um solo desértico, arenoso e de certa forma característico de um clima árido, coberto de neve, rios congelados e areias movediças, este último fenômeno sendo responsável por uma das melhores tomadas do filme em que um dos patrulheiros que espera auxílio sozinho em seu carro é tragado pela traiçoeira superfície, deixando como pista de sua presença apenas as mercadorias que estava na mão. O interessante e, diga-se de passagem, uma ótima cartada do diretor que faz um trabalho parecido em A Arma Perdida, é que esta tomada é mostrada primeiro pelo ponto de vista dos patrulheiros voltando com o auxílio que, encontrando apenas o carro vazio e as mercadorias espalhadas no chão, seguem adiante seu trajeto. Após o corte de cena, o filme volta alguns minutos na linha do tempo mostrando o fato pelo ponto de vista do patrulheiro que estava no carro, aí sim explicando a tragédia e o porquê das mercadorias estarem espalhadas e o motorista não estar mais ali.
Como citado no início, é um filme difícil de assistir. Não é para entreter e sim para assistir, analisar, absorver informações, conhecer e depois pensar em entretenimento. É bonito e tem um roteiro que apesar de algumas vezes assemelhar-se a uma forma de documentário (até por se tratar de uma história real) , da conta do recado, não deixa dúvidas no final, explicando o que aconteceu após esta reportagem do jornalista. O único pecado cometido por Lu Chuan foi ter tratado a narração da história como um todo em terceira pessoa. Em se tratando de um roteiro resultado do trabalho jornalístico de um indivíduo que presenciou e sentiu na pele toda a tensão e sentimento, conflitos e conquistas deste grupo, o mesmo exige algumas vezes, sem sucesso, a opinião ou ponto de vista do narrador, o que não acontece, tornando muitas vezes a história imparcial e mostrada com uma amplitude exagerada desnecessária.
Um ponto contra, vários a favor. Vale a pena assistir quando bater aquela a vontade de um filme cabeça, bonito e de cunho jornalístico.
Mário Pertile
0 tijolaços:
Postar um comentário