A Prova

Publicado originalmente em www.cenadecinema.com.br (01.06.2006)

Crítica do Filme “A Prova
(Proof, John Madden, 99 min., EUA, 2005).

Personagens Bizarros em Trama Original

A pacata, frustrada e nada animada vida de Catherine (Gwyneth Paltrow, Os Excêntricos Tenenbaums – 2001 - Wes Anderson), uma jovem prestes a completar vinte e sete anos que se priva da vida social e acadêmica para poder cuidar de seu pai, o gênio Robert representado por um Anthony Hopkins (O Silêncio dos Inocentes – 1991Jonathan Demme) bastante envelhecido e convincente como matemático em decadência por conseqüência da esquizofrenia, é demonstrada de uma forma curta, porém funcional na primeira tomada do filme. Catherine, deitada no sofá da sala escura, iluminada apenas pelos raios de luz emitidos por programas de televisão sem muita importância naquele momento, é flagrada em um estágio de sono e despertar constante, criando algumas confusões entre sonho e realidade. A edição aplicada neste momento remete ao expectador um clima de suspense, apreensão e expectativa de um filme com muitas reviravoltas e surpresas dignas de outros títulos que já abordaram o casamento da matemática e esquizofrenia com sucesso como “Pi” (1998, Darren Aranofsky, EUA) e “Uma Mente Brilhante” (2001, Ron Howard, EUA). Em uma mescla de sonho, memória e realidade (esclarecida posteriormente) Catherine é despertada com seu pai lhe chamando a atenção para o horário, que já passa da meia noite, indicando seu aniversário e presenteando-a com uma garrafa de vinho. Começa um diálogo sobre o relacionamento de ambos e uma troca de teorias sobre loucura em que Catherine expressa seu receio de acabar como o pai. Ela fala que o aluno de Robert, Hall (Jake Gyllenhaal, O Segredo de Broakeback Mountain – 2005 - Ang Lee) ainda encontra-se na casa, estudando. Acontece que na noite anterior Robert vira a falecer de aneurisma e o aluno de Robert que estava no recinto na verdade pesquisava entre os cento e três cadernos que o matemático escrevera, em seu período de demência, alguma prova de um problema até então insolúvel, para que pudesse publicar no lugar do professor, ganhando fama e reconhecimento pela descoberta.

A partir deste momento, com estes enigmas esclarecidos e algumas alusões a possível hereditariedade da doença, o filme toma um rumo morno com o previsível romance entre Catherine e Hall, gerando alguns diálogos que podem funcionar na peça, onde evidentemente existe alguma interatividade com o público e tudo é mais vivo e presente, mas na tela soa com tom de piadas de romance água com açúcar, fazendo com que muitas vezes a atuação do casal lembre uma comédia adolescente um pouco incoerente pela idade do casal arrancando sorrisos amarelos dos expectadores.

A trama tem bons ápices de tensão quando a ausente e ego centrista irmã de Catherine, Claire (Hope Davis, Anti-Herói Americano – 2003 – Shari Springer Berman e Robert Pulcini), com sua personalidade totalmente autoritária, chega de Nova York para o velório querendo fazer tudo do seu modo. As discussões entre Catherine e Claire revelam ótimos momentos de atuação de ambas, como quando saem para fazer compras e Claire começa a desconfiar que Catherine possa estar seguindo o mesmo caminho do pai ao ouvir da irmã, histórias que, apesar de verdadeiras, parecem sem sentido para uma pessoa de fora da situação. Aqui são explicitamente apresentados conflitos comuns em muitas famílias que ao perder um ente querido são obrigadas a confrontar problemas com parentes ou amigos que querem, de uma hora para outra, tomar partido em problemas que não lhes competem.

O desfecho previsível deixa a desejar justamente por terem sido entregue de bandeja muitas cartas essenciais como a dúvida sobre a solução encontrada em um dos cadernos de Robert, se foi escrita por Catherine ou por Robert, ou a muito mal explorada esquizofrenia de Catherine. A edição que cria um ambiente enigmático na primeira tomada parece esquecida durante o filme enfraquecendo o roteiro.

O filme é redondo, mas não decola, funcionando como entretenimento por ter as excelentes atuações de Hopkins, Paltrow e Davis. Talvez em DVD funcione melhor.


Mário Pertile
Posted on 4/10/2008 by Mário Pertile and filed under , | 0 Comments »

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