Fonte da Vida

Originalmente publicado em http://www.cenadecinema.com.br/ (23.11.2006)

Crítica do Filme “Fonte da Vida” (Darren Aronofsky).

Espiritualidade e pirotecnia virtual
A trajetória de Darren Aronofsky como diretor nos proporciona sempre ótimos títulos de roteiros não lineares, com cenas de closes muito detalhistas e de gestos corriqueiros super valorizados como abrir e fechar portas, espiar no olho mágico ou ingestão de comprimidos. Estes elementos se tornaram marcas registradas em filmes como Pi (3, 14159265358, EUA, 1998) - produzido em preto e branco, em que um matemático esquizofrênico, ao mesmo tempo em que dedica sua vida a encontrar um padrão numérico que resolva o número Pi, é perseguido por investidores que o contrataram para descobrir um padrão presente na bolsa de valores – e Réquiem por um Sonho (Requiem for a Dream, EUA, 2000) - em que Aronofsky dá uma dinâmica agressiva e multifacetada ao universo do tráfico e consumo de drogas, passando pela alienação televisiva e uma contundente crítica sobre drogas lícitas.

Em Fonte da Vida, Aronofsky mostra seu lado mais maduro e espiritual, criando um épico sobre o sentido da vida, reunindo mitos e discutindo até que ponto é válida a total entrega pessoal por uma causa que salve o verdadeiro amor. Em pauta ficam as escolhas: aproveitar enquanto dura ou durar eternamente, sem ter aproveitado.

A solução para este tema tão abrangente foi a escalação do versátil Hugh Jackman (Wolverine da Trilogia X-man), que vem escolhendo cada vez melhor seus papéis, como no recente O Grande Truque. Jackman simplesmente incorpora os três personagens principais de A Fonte da Vida: Tomas, conquistador espanhol do século XVI que entrega corpo e alma para encontrar a árvore da vida, a fim de salvar sua rainha constantemente perseguida pela oposição. Tomy Creo, cientista dos dias atuais que luta incansavelmente efetuando experiências em animais com tumor com o intuito de descobrir a cura para a doença de sua amada, que piora a cada dia. Tomy sem querer, em uma das tentativas, ao invés de descobrir a cura do câncer, encontra uma substância obtida de uma árvore rara que rejuvenesce a cobaia. Um evento importantíssimo para a ciência como este não é digno de atenção para Tomy, que segue em busca da cura, deixando tudo e todos de lado, inclusive sua esposa moribunda (Rachel Weisz). A última versão é Tom, explorador do próximo milênio tentando entender os mistérios que o perseguiram por toda sua vida, que, diga-se de passagem, foi muito mais longa que a de um homem normal.

Não existe tempo nem espaço. Passado, presente e futuro excluem a linha imaginária erroneamente criada pelo homem e se confundem em um único ponto em torno do amor, da busca por respostas e pela ânsia da eternidade.

Com um ótimo argumento e um roteiro bem escrito, tirando algumas tentativas pretensiosas de surpreender o espectador que espera em vão por algumas respostas, Fonte da Vida contém algumas marcas registradas de Aronofsky supracitadas, como os tons em preto e branco e os closes que nessa ocasião são utilizados para comparar a pele humana com o invólucro da árvore.

Um filme cabeça com ótimos efeitos visuais, apelo estético sublime, como um bom Aronofsky deve ser, tem seu ápice em uma explosão de dourado com efeitos sonoros escolhidos a dedo durante a explosão de uma estrela que culmina na união do homem com seu eu interior. É para encher os olhos de belas imagens e a mente com infinitas indagações. Vale a pena.

Mário Pertile

Posted on 4/10/2008 by Mário Pertile and filed under , | 0 Comments »

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