Castelo Animado

Originalmente publicado em www.cenadecinema.com.br (18.07.2006)

Crítica do DVD “Castelo Animado” (Hayao Miyazaki, 119 min., Japão, 2004).

Chihiro e o Castelo
Se tratando de Hayao Miyazaky, é impossível não elogiar com todos os adjetivos possíveis sua obra anterior “A Viagem de Chihiro”, vencedora do Oscar de melhor longa de animação, em que uma menina de 10 anos se perde em um mundo governado por deuses, bruxas e monstros após desobedecer a ordem de seus pais de esperar enquanto eles exploram a estrada. Quando foi anunciado “O Castelo Animado” se pensou que seria difícil repetir a fórmula mágica de mundos e dimensões bizarras sem parecer repetitivo. Miyazaky se superou, tanto no estilo dos traços, animações e cenários, quanto na forma em que consegue levar o espectador a um universo inimaginável e ao mesmo tempo fazer com que pareça tão real durante os 119 minutos animados.

Lisergia Animada
O Castelo Animado conta a história de Sofi, uma menina de 18 anos que, após um feitiço lançado por uma bruxa malvada e obesa, transforma-se em uma senhora de 90 anos que deve a partir de agora seguir seu caminho em busca de respostas. Com a ajuda de um espantalho misteriosamente com vida (apesar de apenas saltitar sobre seu mastro sem conseguir se comunicar com palavras) Sofi encontra o Castelo de Howl, um mago temido e respeitado por todos. O castelo é uma espécie de instalação mecânica, com patas semelhante a patas de galinha, cheio de chaminés, engrenagens e correias. Sofi começa a trabalhar de faxineira no castelo após fechar um acordo com o Deus do fogo que, também por efeitos de um feitiço, está preso como uma chama dentro do castelo, mantendo todo o funcionamento da fortaleza de metal e também a vida do mago Howl. A porta do castelo possui uma chave colorida e, dependendo da cor acionada, abre em uma dimensão diferente. Todos conhecem todas as dimensões, menos a da cor preta, reservada apenas para o mago.
Castelo Animado trata de amor, guerras, traição, amizade, chantagem, maldade, beleza, enfim, todos os elementos presentes no cotidiano de qualquer ser na Terra e por isso, apesar de toda lisergia e situações bizarras, cada acontecimento durante o longa soa como familiar a qualquer tipo de indivíduo.

Técnica e Arte
Mesclando a animação convencional com CG (elementos renderizados e animados em 3D) e uma técnica de pintura conhecida como “harmony” que consiste em mesclar o fundo com a animação, esticando e encaixando até formar o objeto em questão, o Castelo Animado consegue obter um estilo único. Os personagens são bastante semelhantes aos de A Viagem de Chihiro, porém mais bem trabalhados, com mais sentimentos incorporados. Os cenários, desenhados a mão e transferidos para softwares de renderização 3D, são responsáveis por muitos movimentos de câmera convincentes ao longo da animação. Miyazaki consegue em seu próprio estilo abrir um segmento e criar um estilo único para esta obra, que supera o oscarizado “A Viagem de Chihiro”.

O CASTELO
Imaginar um castelo andarilho já é uma tarefa difícil. Agora, imaginar um castelo andarilho mecânico com patas de galinha, chaminés que lembram fábricas e uma porta que abre em várias dimensões é quase impossível. Para ilustrar esta idéia, o castelo foi dividido em 80 partes, como módulos, e essas 80 partes animadas separadamente. Um trabalho árduo que resultou num efeito muito diferente, algo como um castelo-fábrica-robô que anda por campos verdes de céu ensolarado. Ao mesmo tempo em que gerou uma imagem grotesca, uma engenhoca que parece ter sido transportada do século retrasado, é uma imagem que dá gosto de assistir, criando a expectativa de quando irá aparecer novamente.

Castelo Animado é uma animação que explora o universo adulto, com amores e intrigas, de forma fantástica em diferentes dimensões. Consegue ser melhor que o excelente A Viagem de Chihiro, utilizando algumas referencias de traço e cores do mesmo. Vale a pena. Vale muito a pena.
Mário Pertile
Posted on 4/10/2008 by Mário Pertile and filed under , | 0 Comments »

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