O Buda
Crítica do filme “O Buda” (Diego Rafecas).
O longa de estréia do argentino Diego Rafecas possui um roteiro no mínimo interessante. Tomás (o ator estreante Agustín Markert), um jovem Office Boy criado pela avó após o rapto de seus pais por militares durante a ditadura Argentina, foi educado por seu pai dentro dos ensinamentos budistas, nos poucos anos em que viveram juntos. Adulto, Tomás se sente pressionado pela a correria típica da cidade grande, o que gera um avassalador conflito interno, fazendo-o buscar na cultura a ele repassada por seu pai as respostas para os mistérios da vida. Começa então um processo de isolamento do mundo exterior, atingindo a namorada (Carolina Fal), atriz, que lhe causa uma grande decepção amorosa e também o irmão (o próprio Diego Rafecas), um cético e antipático professor de história. Após conhecer uma praticante budista enquanto meditava em uma boate temática, Tomás decide retirar-se em um templo com sua namorada, abdicando de todos seus pertences e prazeres terrenos (inclusive o sexo).
Para sua surpresa o mestre do templo, que o chamara várias vezes por intermédio de sonhos, resolve cobrar sua estadia. Indignado, porém conformado, começa a trabalhar em um restaurante local enquanto sua namorada trabalha no templo. Durante a estadia eles recebem a visita de seus familiares, fato que gera cenas irônicas e que valem o filme.
Diego Rafecas foi ordenado monge budista em 1995. Em O Buda notamos claramente a tentativa da realização de um projeto significantemente autoral, incorporando suas próprias filosofias e indagações na película. Suas críticas também estão lá. Críticas à sociedade, à forma como diferentes personalidades tratam a religião, o fanatismo que cega as pessoas e as faz afastar-se do mundo, inclusive criticando aspectos do próprio budismo.
Apesar de um ótimo roteiro, o filme demora um pouco a se desenrolar, talvez pela falta de experiência de Rafecas em longas metragens. Acostumado com a produção de curtas, acabou criando uma reunião de fatos interessantes, dentre eles fatos cômicos, filosóficos e dramáticos, em um material de cento e quinze minutos, porém com um elo difícil e criando em certos momentos uma maçante sensação de marasmo.
Os destaques ficam para a direção de arte de Cristina Nigro e para a excelente construção dos personagens, com personalidades bem definidas e bem representadas pelos atores, resultando em diálogos que fluem naturalmente.
O Buda é um filme com um ótimo roteiro, ótimas atuações e plasticamente bem feito, carecendo apenas de uma ligação sólida e bem desenvolvida entre as situações apresentadas. Um recado para quem se chatear e pensar em sair da sala no meio da seção: O final vale os cento e quinze minutos.
Mário Pertile
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