Napoleon Dynamite

Originalmente publicado em www.cenadecinema.com.br (20.11.2006)

Crítica do Filme “Napoleon Dynamite” (Jared Hess).

Um Mundo a Parte
O universo nerd norte americano, no melhor sentido da expressão, é retratado de forma sincera e com uma boa pitada de humor obscuro neste longa de encher os olhos dirigido por Jared Hess, o mesmo de Nacho Libre. Produzido pela Mtv filmes em parceria com a Fox, Napoleon Dynamite expõe de forma simples e cotidiana a vida de Napoleon Dynamite (Jon Heder, dublador do seriado Robot Chicken e do longa de animação “A Casa Monstro”), um jovem sem habilidades aparentes, a não ser a sinceridade e seu hobby de desenhar animais mesclados, como o “Liger”, uma mistura de leão com tigre de poderes mágicos. É seguidamente acossado por seus colegas jogadores, principalmente por Don (Trevor Snarr), sendo motivo de escárnio entre as líderes de torcida e garotas populares. Sem amigos e conformado com a situação, Napoleon vive em seu próprio mundo, interiorizando sua ira sem se manifestar. Mas as coisas estão prestes a mudar quando sua avó, uma espécie de senhora promíscua fã de esportes radicais, com quem divide a casa, se acidenta enquanto andava de quadriciclo no deserto, e pede para o tio Rico (Jon Gries, MIB – Homens de Preto) cuidar das “crianças”, que além de Napoleon, inclui o irmão Kip Dynimate (Aaron Ruell), de 32 anos, que mantém há anos o que julga de um relacionamento sério, apenas pela internet. Enquanto o tio Rico procura diversas formas de ganhar dinheiro vendendo produtos de origens duvidosas e aproveita o tempo vago para estragar ainda mais a vida do sobrinho, Napoleon por sua vez conhece Pedro Sanchez (Efren Ramirez, também dublador de Robot Chicken), um mexicano recém chegado nos Estados Unidos, por quem Napoleon cria uma consideração amistosa muito forte, mesmo sem trocar muitas palavras. Começa então uma saga de ambos para tentar conseguir um par para levar ao baile de formatura. Após o baile, Pedro se candidata a presidente dos alunos, sendo Napoleon seu braço direito. Juntos concorrem com a garota mais popular da escola e passam por muitos apertos e situações hilárias.

Um Clássico Atual
Napoleon Dynamite é uma película simples e de ótimo gosto que consegue transpor para a tela as angústias do universo Nerd, marginalizado pelo pop estudantil norte americano de uma forma leve, porém com uma contundência sentimental muito forte, mostrando a realidade com uma intimidade ímpar do centro à periferia do mundo geek excluído. Sem exageros, sem caricaturas. Uma tragicomédia singular com direção de arte sublime e marcante, abusando de cores primárias e paisagens campestres, o que lembra muito outro bom título “Hora de Voltar” (Garden State, de Zach Braff, 2004, EUA). Nada de excessos em cenários ou personalidades. Todos os objetos, cores, diálogos, personagens e ritmo de desenvolvimento do roteiro são como deveriam ser. O clima catatônico de nosso personagem principal e seus amigos lembra muito o personagem Don Johnston, de Bill Murray em Flores Partidas (Broken Flowers de Jim Jarmusch) e cria uma sensação contraditória com a utilização de cores vibrantes, o que gera o movimento necessário à falta de diálogos ou de ação em algumas cenas. Despretensão e respeito são as palavras-chave do filme. É o que cativa e faz com que Napoleon Dynamite seja um daqueles Dvds indispensáveis na videoteca pessoal para ver e rever, como referência, estudo ou diversão.
Mário Pertile
Posted on 4/10/2008 by Mário Pertile and filed under , | 0 Comments »

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