Wood e Stock - Sexo, Orégano...

Originalmente publicado em www.cenadecinema.com.br (10.10.2006)

Crítica do filme “Wood e Stock - Sexo, Orégano e Rock'n Roll

...ENFIM, O ORÉGANO.
Pairou no ar canarinho um aroma de orégano, às vezes mais forte, às vezes mais fraco, durante mais ou menos uma década. Agora finalmente está estreando nos cinemas, após um árduo trabalho (braçal, burocrático e criativo) a animação mais esperada pelos fãs de Angeli e o público underground em geral. Wood e Stock – sexo, orégano e rock´n roll é literalmente uma viagem ao submundo dos personagens de Angeli. Oriundos de universos totalmente diferentes, figuras que cativam pela tosquice e conteúdo em seus discursos libertários agora contracenam em um longa cheio de humor simples e escrachado, sem frescuras, nem censuras. Para complementar o mundo lisérgico idealizado e dirigido por Otto Guerra para dar vida à quebra de tabus cínicos e dissimulados, o longa conta com as atuações de Rita Lee (Rê Bordosa), Zé Victor Castiel (Wood), Sepé Tiaraju (Stock), Janaína Kremer (Lady Jane) e Tom Zé (Profeta Raulzito) interpretando os personagens principais.

A VIAGEM
A trama inicia em uma típica festa de reveillon hippie da década de setenta, apresentando em movimento os personagens originais de Angeli. Mais além, estamos no tempo presente, Wood casado com Lady Jane, uma espécie de mística-cartomante-terapeuta-alternativa que resolve dar um basta na vida mundana e parte em um retiro espiritual com o mestre Rhalah Rikota, que de espiritual não tem nada. Stock perde o pai e perde o chão, indo parar na casa do amigo de décadas e ex-companheiro de banda Wood. Enquanto Lady Jane experimenta as peripécias sexuais do templo de Rhala Rikota, que prega os ensinamentos do livro sagrado do Kamasutra, Wood e Stock, sem dinheiro, sem trabalho e sem querer se vender ao sistema, entre um baseado de orégano e outro, têm a brilhante idéia de reviver a banda. Com a idéia fixa na cabeça depois de receber uma mensagem do Profeta Raulzito, Wood e Stock saem em busca dos ex-integrantes. Com o vocalista falecido, a solução é convidar Sunshine, um porco (porco mesmo) meio poser, meio punk, para dar conta do recado. O resultado é uma banda hippie-punk-hajenish psicodélica. O destaque fica para as aparições da Rê Bordosa, que ressurgida das cinzas, é vizinha de Wood. Durona e difícil de agradar, a musa sexista é um show a parte. Sempre de ressaca, sempre fumando, sempre de mau humor e desacreditada da vida, sempre que aparece faz o público rir em sua história paralela que acaba cruzando a vida de Stock, proporcionando-lhe uma grande noite de sexo, orégano e rock´n roll. Outros personagens de Angeli estão presentes como os Skrotinhos, júri do festival de rock, Bob Cuspe em aparições relâmpago como figurante, Nanico e Meiaoito como produtores musicais entre outros.

Com traços mais limpos que o original, Wood e Stock – sexo, orégano e rock´n roll exigiu que fossem executados em torno de quarenta mil desenhos entre layout, cenários e animações e é a primeira animação brasileira a receber do Ministério da Justiça a classificação indicativa “Inadequado para menores de dezoito anos”, que depois foi reduzida para dezesseis anos.

PARCERIA DE AFINIDADES...
O resultado dessa mescla de atitude setentista com o marasmo causado aos nossos protagonistas por conseqüência do tempo que impreterivelmente passa, fazendo-os adaptar-se aos dias de globalização, é uma viagem lisérgica fiel de oitenta e um minutos onde não importa o ponto de chegada e sim o trajeto. Trocando em miúdos, uma parceria entre um consagrado cartunista revolucionário, subversivo e sem pudor e o que seria segundo a bíblia internacional da Taschen sobre animação ANIMATION NOW: “O papa underground da animação brasileira”, não poderia resultar em algo melhor, nem pior. Esta é a melhor fórmula.
Wood e Stock – sexo orégano e rock´n roll não enrola, é para respirar bem fundo, prender e soltar a gargalhada.
Mário Pertile
Posted on 4/10/2008 by Mário Pertile and filed under , | 0 Comments »

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