O Labirinto do Fauno
Crítica do Filme “O Labirinto de Fauno” (Guillermo del Toro).
Era uma vez...
Com um clima de fábula semelhante a mais recente produção de M. Night Shyamalan, A Dama na Água, Guillermo del Toro comanda O Labirinto do Fauno. O filme conta a história de Ofélia (Ivana Baquero), enteada de um militar fascista que atua nas regiões montanhosas ao norte de Navarra, onde se encontra um foco de rebeldes inconformados com o final da guerra civil. Recém chegada junto com sua mãe Carmen (Ariadna Gil), Ofélia descobre uma grande amizade em Mercedes (Maribel Verdú), chefe das cozinheiras do alojamento que lhe explica sobre o labirinto rochoso abandonado existente no amplo pátio. Tendo que conviver entre o sofrimento da gravidez problemática de sua mãe e as crueldades exercidas por seu padrasto, este interessado apenas no filho que está se formando no ventre da esposa, Ofélia encontra refúgio nos segredos escondidos pelo labirinto, descobrindo que é nada menos que uma espécie de reencarnação da princesa de um universo paralelo ao nosso.
Agora Ofélia, guiada pelo Fauno guardião do labirinto e suas fadas, deve completar três missões para comprovar que ainda mantém a essência pura de princesa e poder retornar ao seu reino.
Juízo Final
Com produção surpreendente, levando-se em conta o baixíssimo orçamento (em torno de cinco milhões de dólares), O Labirinto do Fauno tenta expor por trás da fábula a idéia de que o juízo final, tanto esperado por religiosos que crêem no julgamento pós-morte, na verdade se dá em vida, em nossos atos, em nosso dia a dia, pondo em cheque nossa real essência.
Configurando um conto de fadas para adultos, O Labirinto do Fauno deixa de lado o suspense figurado por A Dama na Água e parte para cenas violentas e bem dirigidas, com destaque para a cena em que o padrasto de Ofélia desfigura o rosto de um homem na frente do pai no melhor estilo de Irreversível (de Gaspar Noé), na cena em que um homem tem o rosto desfigurado por um extintor de incêndio.
O ponto forte de O Labirinto do Fauno está na concepção e caracterização dos monstros. O Fauno é uma espécie de minotauro azul e envelhecido pelo tempo, com caráter não bem especificado. Ora parece confiável, ora parece o ser de caráter mais duvidoso da face da terra; O fato é que ele convence Ofélia a completar as missões perigosíssimas a fim de comprovar sua excelência.
Uma das missões envolve pegar uma adaga em um cofre vigiado pelo Homem Pálido, um monstro alto e enrugado, com os olhos nas palmas das mãos, que passa o tempo todo dormindo sentado à mesa de jantar, a não ser que alguém não consiga resistir à tentação de comer algo de seu banquete. Isso o faz acordar furioso destruindo tudo o que vê pela frente até conseguir capturar o ladrão de suas guloseimas.
O que O Labirinto do Fauno tem de forte na construção dos monstros e do roteiro, perde na interação CG com personagens reais. Na cena em que Ofélia tem que enfrentar o sapo gigante no subsolo de uma árvore velha nota-se nitidamente o cromaqui utilizado, deixando a língua do sapo, quando encosta ao braço de Ofélia, como uma segunda camada sobre a película.
Com mais pontos fortes que fracos, O Labirinto do Fauno como fábula de terror é uma boa opção para descontrair, com uma boa lição de moral que nos remete a agir pelo bem, pois o juízo final se dá durante a vida e sempre deixamos rastros de nossos feitos. Para acompanhar a ótima trilha incidental, entrando sempre na hora certa, um desfecho imprevisível encerra o épico de Ofélia em busca de seus ideais.
Mário Pertile

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