ATARI 2.0




2007 e 2008 foram sem dúvida os anos em que a China mostrou sua face ao mundo, introduzindo como uma avalanche seus alvitres em todos os mercados. Nunca se ouviu falar tanto de produtos importados de lá como na época supracitada, apesar destes mesmos produtos estarem presentes em lojas de departamentos acessíveis e bancas autônomas de comércio (os bons e velhos camelôs) desde que o Sol é o Sol. As Olimpíadas vieram como um ponto máximo, a coroação de uma era de consumismo extremo e dilapidação estética.

Ao mesmo tempo na terra do Tio Sam, uma bolha estava prestes a estourar, como se ninguém tivesse aprendido nada com a bolha de algum tempo atrás, a da internet, que causou furor e pânico no seu limite por um bom tempo, sendo considerada uma crise isolada e controlável. Mas como é de costume, os Estados Unidos não aprenderam com seu erro e a mão invisível símbolo do capitalismo foi decepada mais umas vez e seu sangue foi espalhado por todo globo. Desta vez de verdade.

Tendo este cenário como contexto, a China levando seu apogeu ao ocidente e a América toda poderosa rechaçada pela ganância, afetando assim o mercado internacional, chegamos a um ponto de retrocesso extremamente saudável: a não glamorização.

A observação óbvia, porém errônea, de que a “moda Índia” estará em voga por modismos televisivos é apenas o resultado de toda uma engrenagem economica-cultural que começa muito antes de qualquer emissora escrever um roteiro e levar seus atores para lugares exóticos. Com uma análise incisiva não é difícil concluir que as emissoras simplesmente seguem tendências que vem se desenhando em um passado não muito distante, sempre visando evidentemente os espaços para patrocínio.

O modernismo excessivo impulsionado pela convergência do virtual com o real, em conjunto com o avanço desenfreado da tecnologia e da estética fazem com que a humanidade busque nas raízes o que antes era tachado como over, rústico ou fora de época. Tanto a falta de verba quanto parcerias comerciais e culturais com países como a Índia, onde hoje se concentra um grande acesso à mão de obra para desenvolvimento de software, sem mencionar Bollywood, que cada vez mais exporta seus filmes para o resto do mundo e que vem aos poucos ganhando o destaque merecido, fazem de 2009 um ano em que a simplicidade não mais será uma opção pobre ou uma artimanha para prazos curtos, mas sim uma arte sincera de transmitir grandes mensagens com muito pouco. A festa do Oscar deste ano é a prova que faltava para mostrar aos céticos de que este conceito de trabalho de pompas exoneradas nunca deveria ter sido desprezado.

O que veremos a partir de agora e que já está sendo posto em prática em vinhetas e produções audiovisuais é a beleza da estética simples e clara sempre agregada ao resultado efetivo. Será comum ao longo de 2009 sermos apresentados a artes compactas a primeira vista, sempre tendo em voga a cultura pixelart, o desenho a mão, o preto e branco ou cores primárias combinadas de formas impensáveis até pouco tempo atrás, reflexos amplamente difundidos pela chamada web 2.0 e a idéia como elemento principal, sobressaindo-se aos efeitos visuais. Teremos uma comunicação menos mascarada e ao mesmo tempo mais colorida. Teremos um resgate de décadas passadas, mais precisamente 70’s e 80’s, em que a arte de rua como o grafitti, a estética crua do pré e pós-punk londrinos e sons e imagens beirando os 8 bits eram o extremo do possível. Falando em estética punk, Malcolm Mclaren foi eleito há alguns anos em Cannes o homem mais criativo do século XX. Não foi por acaso.

O nosso tempo chegou ao limite das possibilidades e isso faz com que se encerre um ciclo de produção onde tudo pode ser feito sem maiores dificuldades, para utilizar toda esta experiência em prol da prática, singeleza e repetindo, dos resultados. Esteticamente falando, a crise não poderia ter vindo em melhor hora.

Posted on 2/23/2009 by Mário Pertile and filed under , | 0 Comments »

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